terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

O Alves de Monção!

Na imagem que aparece no cabeçalho deste blog, ele aparece destacado, à esquerda, de fato camuflado, enquanto o resto da maralha está com a farda de trabalho. Isso significa que ele estava de guarda, nesse dia, e nada mais que isso.

Não sei se ele se mudou, definitivamente, para a sua terra natal, no Minho, ou continua a andar cá e lá, entre o Lavradio e Monção. Na última vez que falei com ele disse-me que as obras na sua casa estavam quase prontas e depois contava passar ali mais tempo que no Lavradio, onde estabeleceu a sua residência, depois de se reformar da Marinha.

Mas os nossos planos, muitas vezes, são alterados por vontade de terceiros e ele tem família criada naquele sítio, filhos e talvez netos que o não deixem cumprir os seu planos à risca. E depois, há a sua mulher de quem não sei absolutamente nada. Se ela também for minhota pode puxar para este lado, mas se não for pode remar contra a maré e o Alves, camarada, amigo e filho da escola, pode ver os seu planos, completamente gorados.

Tenho tentado entrar em contacto com ele por todos os meios, mas sem sucesso. Ou mudou de número de telemóvel ou deixa-o ficar no descanso, enquanto ele anda por fora. Se alguém passar por aqui e o conheça, deixe um recado. Ele era conhecido pela alcunha de «Zeca Diabo» por causa da sua careca e bigode que o faziam parecer-se com a personagem desempenhada pelo famoso actor brasileiro Lima Duarte numa das telenovelas que passaram na nossa TV, salvo erro, Roque Santeiro.

Os filhos da escola comuns que também moravam no Barreiro, nomeadamente, o Pintado, o Bento, o Ferreiro, o Toucinho, já morreram ou vivem caladinhos no seu canto, sem passarem cartão a ninguém. A idade começa a pesar e as dificuldades da vida ajudam a que as pessoas fiquem "fora de serviço".

Gostaria muito de saber notícias dele!!!

domingo, 28 de janeiro de 2024

O Garcia de Santa Comba!

 



Não conheci o Garcia de Horta (seria natural da Horta, nos Açores?), mas conheci e convivi, durante alguns anos, com o Garcia de Santa Comba de Seia, na Beira Alta. Ele era um rapaz engraçado, com aquele modo de falar à moda das Beiras, em que os "ss" caem mais para o lado dos "xx". Por essa razão, na Marinha, lhes dedicaram a alcunha de "xaitos"! O Garcia era o nosso xaito da CF2 e levava na maior todas as brincadeiras que fazíamos com ele.

Um certo dia, sem nada mais importante para fazer, chamei por ele e perguntei-lhe:

- Garcia, queres que eu te ensine a pronunciar os "ss" correctamente?
- Eu bem gostava, mas não acredito que isso seja possível.
- Porquê? sempre falei assim, a minha família e amigos falam todos assim e eu ia parecia um palerma se chegasse ao pé deles a falar de modo diferente.
- Oh, Garcia, pensa lá uma coisa, a tua família, agora, é a Marinha, em especial os 150 camaradas da Companhia 2 e ninguém fala como tu.
- Ai não fala, e então o Zé Daniel, como fala ele?
 - O Zé Daniel é a excepção que confirma a regra, por isso não conta.
- O que é que isso quer dizer, ele fala tal e qual como eu.
- Isso agora não interessa nada, pensa apenas no teu problema e em como poderemos resolvê-lo.
- Está bem!
- Ok, vou ensinar-te uma frase que tu deves repetir, pelo menos, umas cem vezes por dia, até achares que já consegues dominar a ciência de pronunciar as consoantes sibilinas.
- Sibilinas? O que quer dizer isso?
- Esquece isso, Garcia, e concentra-te no que te vou dizer. A frase que quero que repitas muitas vezes é a seguinte:

A História é uma sucessão de sucessos que se sucedem sucessivamente sem cessar!

- Que quer dizer isso?
- Não te importes com o significado, só tens que repetir até conseguires que a tua língua aprenda o sítio onde deve ficar, quando tiveres que pronunciar um "S".

E o Garcia lá se separou de mim, com os trabalhos de casa para fazer. Quis o destino que algum tempo depois destas peripécias, eu fosse destacado para o norte de Moçambique, deixando o Garcia - com a missão que eu lhe tinha distribuido - na capital moçambicana. Quatro meses depois, regressei à capital e começámos a fazer as malas para regressar a Lisboa. A conversa sobre os "ss" e se ele tinha conseguido corrigir o seu modo de falar ficou esquecida no tempo.

No Ano de 2002 reuniu-se o pessoal da CF2 num convívio, em Sintra. Como é normal, a maioria dos presentes não reconhecia ninguém naquelas caras de velhos e carecas. Então aproximou-se de mim um sujeito baixinho e perguntou, sabes quem eu sou? A cara dele fazía-me lembrar alguém, mas não conseguia saber exactamente quem. E então, ele abriu a boca e disse:

A História é uma sucessão de sucessos que se sucedem sucessivamente sem cessar!

Claro que os "ss" saíram, exactamente, como quarenta há anos, quando estávamos em Moçambique!

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

O último sargento da Companhia!

 


Resistiu até onde pôde, mas assim como foi o último ano já não valia a pena. Passou mais tempo no hospital - e no bloco operatório - que noutro lugar qualquer. Infecções sucessivas no trato urinário fizeram-no sofrer muito e a morte acaba por ser uma libertação. O corpo aguenta muito, mas o fim é sempre o mesmo, as maleitas derrotam o humano e este acaba debaixo de terra. Do pó vieste e ao pó hás-de tornar, é esse o destino que temos traçado em letras de fogo no Livro da Vida.

No meu blog principal -  https://nma-16429.blogspot.com/ - deixarei uma crónica mais alargada, aqui fica apenas a notícia para qualquer "raro" visitante que por aqui possa passar.

Descansa em paz, companheiro de muitas lutas, Albertino Veloso !!!

sábado, 3 de junho de 2023

Cada tiro cada melro!

 


Hoje realizou-se, em Loures, o funeral de mais um filho da minha escola e membro da CF2. Está acontecer tal e qual como acontece com as nozes, a casca escurece, começa a ficar enrugada, depois abre-se e deixa cair a noz no chão. O Braulio já tinha 83 anos, ou estava quase a fazê-los, portanto digamos que chegou a sua hora, foi na vez dele e de mais ninguém.

Nos primeiros meses de Marinha quase não nos cruzámos, pois a instrução era dada por pelotões e nós não pertencíamos ao mesmo. Mas depois de chegarmos a Moçambique tornámo-nos mais próximos. Quase todos os alentejanos e algarvios ficaram na caserna Nº 1 e eu na Nº 2, no entanto o Braulio, também ele algarvio, juntou-se a mim na Nº 2 e fomos camaradas de dormitório cerca de dois anos. Quase no fim da comissão eu fui destacado para o Niassa e ele ficou para trás, mas quando regressei, para prepararmos a partida para Lisboa, voltei a ocupar a minha antiga tarimba e a ser vizinho do Braulio.

O serviço de guarda que fazíamos a cada 3 dias, revezando-nos no posto de sentinela durante 24 horas, fez criar laços indestrutíveis entre camaradas. O Braulio não pertencia ao meu pelotão e no início da comissão não fazia serviços comigo, mas, a páginas tantas, para substituir algum "lesionado", veio para a minha secção e passámos a partilhar horas e horas de companhia um do outro. Ele ganhou a alcunha de «Rei do Sono», porque quando se punha a dormir não havia quem o acordasse, se o deixassem dormia 24 horas seguidas, mas nos serviços de guarda era o mais fiável de todos os camaradas, enquanto estava no posto nunca pregava olho.

E depois, havia ainda outra coisa que nunca esqueci, ele recebia, de vez em quando, encomendas enviadas pela família, onde não faltavam os figos e aguardente dos ditos, entre outras coisas mais apetitosas. Pois um Braulio nunca abria a encomenda sem me convidar para comer dois ou três figos e beber um trago daquela aguardente que tem um sabor indescritível.

O Braulio era um camaradão e um bom homem, nunca encontrei ninguém que afirmasse o contrário. Agora, recebeu a Guia de Marcha para se apresentar lá em cima, como acontecerá a cada um de nós, e só me resta desejar que descanse em paz e se houver outra vida para além da morte que a disfrute o melhor possível. A vida passa num piscar de olhos e dentro em breve lá estaremos todos juntos de novo!



sábado, 6 de maio de 2023

O Fragata!

 


Havia 3 "fragatas" na minha recruta, tal como havia também 2 "casapianos", rapazes que vinham de instituições que, ao chegar aos 18 anos os empurravam pela porta fora para dar lugar a outros. A Marinha era um destino natural para os fragatas que tinham passado a vida internados na fragata D. Fernando e Glória, fundeada no Mar da Palha, perto da Base Naval.

Os 3 camaradas que vieram fazer a recruta comigo, na Escola de Fuzileiros, foram baptizados com os nomes de Fragata (16273), Fragatinha (16451) e Fragatão (16452). Os nomes, melhor, as alcunhas, tinham a ver com a idade e o físico de cada um, além de o Fragata ter chegado 3 ou 4 dias mais cedo e agarrado logo a sua com as duas mãos. E dos 2 que chegaram a seguir, o Fragatinha era magrinho como uma espinha de carapau, enquanto que o Fragatão tinha um corpo bem musculado.

Passámos os primeiros 6 meses de Marinha juntos e seguimos depois para Moçambique incorporados na Companhia de Fuzileiros Nº 2. A meio da comissão o Fragata foi recambiado para a Metrópole por mau comportamento. Os dois restantes continuaram sempre juntos comigo, fomos para o norte de Moçambique, logo que estourou o terrorismo (como lhe chamávamos), andámos aos tiros contra a Frelimo e regressámos, ao fim de 30 meses, à Escola de Fuzileiros para frequentar o Curso de 1º Grau.

Acabado este, o Fragatinha e eu regressámos a Moçambique, ele porque estava embeiçado por uma moçambicana e eu porque ele me convenceu a acompanhá-lo para não ir sozinho. O Fragatão seguiu para a Guiné, uns meses mais tarde. Aí perdemos a companhia de um dos 3 fragatas, o outro tinha partido para o Canadá como pescador de bacalhau, assim fiquei só com um deles e não por muito tempo.

Terminada a comissão, o Valter decidiu passar à vida civil e ficar em Moçambique (ainda e sempre por causa da mesma catraia moçambicana) e bem me tentou convencer a ficar também, mas aí eu fui irredutível. Não é que eu não gostasse de Moçambique, mas não via que futuro me esperava ali. Acho que acertei na escolha, escapei de voltar como "retornado".

A partir daí cada Fragata seguiu o seu destino sem nunca de voltarem a cruzar, até que eu, depois de muitos esforços nesse sentido, os ter conseguido juntar de novo, em Montemor-o-Novo, no convívio do ano 2010. O Fragata veio do Canadá, onde se casara e ficara a residir, o Fragatinha veio de Sines, onde ficara a morar, após o seu regresso como retornado e o Fragatão veio de Albufeira, a sua terra natal, onde vivia reformado como oficial da Marinha.

Foi um reencontro animado, em que cada um despejou o saco das suas recordações e matou as saudades de muitos anos separados. O Valter continuei a vê-lo a cada convívio que eu próprio organizava, pois queria manter vivo o vínculo que criara com muitos amigos. O Domingos (era este o seu nome próprio) regressou ao Canadá com muitas promessas de voltar e participar nos convívios, promessas que nunca foram cumpridas e não sei se ainda é vivo ou já partiu para o Além. O Floriano também se ficou por Albufeira disfrutando da sua reforma de oficial da Marinha e não mais se apresentou aos convívios que eu, teimosamente, continuava a organizar a cada ano.

O Valter começou a ter problemas de saúde e acabou vitimado por um cancro do cólon, depois de vários anos a sofrer dessa doença sem se tratar convenientemente. Dizia ele que preferia ser escravo da doença que dos médicos que lhe iriam infernizar a vida para o manter na lista dos vivos.

Ontem, sucumbiu o Floriano, deixando-me aqui sozinho a pensar na vida, e na morte, e a agradecer a Deus por me ir deixando gozar a vida por mais algum tempo. Descansa em paz, Floriano, e faz boa companhia ao Valter até eu me voltar a reunir convosco!

sábado, 22 de abril de 2023

Passei por aqui!

 Só para actualizar a coisa!



Esta semana andei a tentar contactar o Elias (16454), mas sem sucesso. Ele usava o Hotmail e tivemos alguns contactos no passado, mas parece que não o usa mais. Há muita gente da nossa idade que já não tem a mínima paciência para estas coisas tecnico-modernas, querem é que as dexem em paz e sossego. Talvez seja o caso dele. De qualquer modo deixei lá o recado, pode ser que um dia lhe dê para ir lá espreitar.

Isto no caso de ser ainda vivo, pois pode dar-se o caso de já ter viajado para a outra dimensão, onde não há e.mail nem outro meio de comunicação. Com a crise de Covid-19 descontrolada que andou pelo Brasil (culpa do Bolsonaro que dizia que aquilo era uma gripezinha merreca) nunca se sabe!

sábado, 1 de abril de 2023

Notícia atrasada!

 

NMA - 16881
Na minha última publicação falei de vários camaradas que andam um pouco esquecidos e não me lembrei do Damásio, este alentejano dos olhos redondinhos que seguiu a carreira da Marinha, mas estacionou no posto de Cabo. Quase todos os filhos da nossa escola foram ao curso de sargentos e outros chegaram até a oficiais, mas ele não, arranjou um trabalhinho na Repartição que lhe agradava e por lá se deixou ficar até à reforma. Nunca se casou, vivia com uma irmã e a vida ia correndo da maneira mais sossegada que se possa imaginar.

Mas tudo tem um fim, a começar pela nossa vida que acaba sempre, sem apelo nem agravo, na morte que chega sempre de surpresa e nos leva com ela. Como não tinha notícias dele, há já bastante tempo, telefonei a outro camarada que mora na mesma zona e ouvi o que não queria. O Damâsio já faleceu em Maio do ano passado.

E não me resta outra alternativa senão riscá-lo da minha lista, uma vez que o S. Pedro o acrescentou na dele. Já está lá em cima esperando que toda a nossa Companhia se apresente na formatura, o que não demorará muito, a fila cada vez anda mais depressa. Que Deus lhe tenha reservado um bom lugar que ele não era mau rapaz. Que descanse em paz !  

sexta-feira, 31 de março de 2023

Este mês de março!

 


Levou 3 fuzileiros das minhas relações. Cada um que parte leva um pouco de nós que ficamos por cá mais uns tempos!

Isto fez-me lembrar que, há muito tempo, não tenho notícias de alguns que andam por fora do país ou ainda outros que são pouco dados a contactos constantes.

Havia dois Raimundos na Companhia 2, um de nome, Júlio Raimundo, o outro que dizia ser o nome ou alcunha do seu pai, mas que não constava do seu cartão de identidade. Há dias telefonei a cada um deles para saber da sua saúde e atenderam-me com alegria, um mais alegre que o outro, pois andava cheio de medo com problemas na próstata e disse-me que está curado, como por milagre, o outro mais triste porque sofre de um glaucoma que o tem quase cego.

Mas tenho mais de quem não sei nada, o Padre que ficou na Alemanha. o Elias no Brasil, o Fragata, no Canadá, o Tarrinha que passa a vida entre Sintra e os Estados Unidos, o Rodrigues que mora lá para os lados da Barragem do Castelo do Bode e o Manel perto das Portas de Ródão. E há mais que começam a viver em lares para idosos e para quem a vida já não tem grande valor. Eles bem podiam ligar-me a dar notícias, mas se não sentem essa necessidade ... quem sou eu para os obrigar.

Havia um alentejano meu amigo que dizia: - a gente leva os burros à fonte, mas eles é que decidem se bebem ou não!

quinta-feira, 23 de março de 2023

Era uma vez ...!

 

NMA - 8474.62

... um fuzileiro que hoje já não é mais, morreu!

Alentejano de nascença foi, com todos os seus conterrâneos, dormir para a caserna Nº 1, no Aquartelamento da Machava, quando a Companhia de Fuzileiros Nº 2 chegou a Moçambique. Acredito que não foi por acaso, eles apegam-se uns aos outros estejam onde estiverem.

Pois é e por aquilo que me lembro o Serafim era uma animação naquela caserna. Dava pela alcunha de Galguista por ter sido treinador de galgos, antes de ingressar na Briosa e só havia outro que rivalizava com ele na animação noturna, era o Mateus que dava pela alcunha de Custoidinha (nome mimado que dava à sua namorada que deixara na terra) que era algarvio e não deixava os seus créditos por mãos alheias. Eles os dois punham aquela caserna em polvorosa e justificavam as visitas frequentes do Cabo de Quarto para manter a ordem.

Tanto quanto sei, abandonou a Marinha pouco depois de termos regressado de Moçambique, na Primavera de 1965. E o seu principal emprego, senão o único, na vida civil foi como empregado da empresa de construção e reparação naval, a Lisnave. Se for verdade tudo aquilo que me contaram a este respeito, ele foi um dos mais bem sucedidos Filhos da Escola com quem convivi. Ele aprendeu bem o seu ofício e acabou numa posição cimeira, comandando e ajudando a entrar na empresa muitos fuzileiros regressados da guerra em África e necessitados de um emprego.

Depois de reformado, vivia na margem sul, Cruz de Pau, Feijó ou algo semelhante. Um café e um bagaço ou um copinho de tinto era tudo o que precisava para se sentir feliz. Só uma vez participou nos nossos convívios anuais, quando o organizei em Montemor-o-Novo. Depois de sairmos do paquete Infante D. Henrique, em Alcântara, foi a primeira e única vez que o encontrei, agora é impossível, pois repousa no cemitério da zona em que morava.

Foi um bom camarada e resta-me pedir a Deus que lhe reserve um bom lugar, lá no céu, em paga do bem que ele fez cá na Terra. Paz à sua alma !!!

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Dois duma vez!

 

Clica na imagem que lês melhor

Muitos dias sem publicar nada e hoje foram logo duas publicações. Uma para recordar o Rodrigues que não sei se é vivo ou morto e a outra para dar parte dos falecidos da Revista da Armada de Dezembro 2022.

O mais velho da nossa Companhia que resistiu a tudo e mais alguma coisa, nem a Covid-19 o vergou, recebeu, finalmente, a Guia de Marcha para a última viagem, 199548 - Sargento M - Joaquim Gomes. Deixou agora no primeiro lugar da fila o Sargento Monitor Albertino Veloso que vai carpindo as suas mágoas e falta de saúde no CAS  - Runa. Faço aqui uma ressalva, pois não tenho notícias do 2º Comandante Ilharco de Moura, mas diria que ele é mais novo que o Veloso.

O segundo comtemplado com uma Guia de Marcha para destacamento imediato foi o 472757 - Sargento Ajudante Artilheiro - Manuel António Lúcio que, tanto quanto me é dado saber, vivia em casa de um filho, na Quinta do Conde.

A título de curiosidade, atentem nos Números de Matrícula da Armada e as idades que a cada um correspondem. Joaquim Gomes 1995 = 94 anos; Albertino Veloso 3143 = 90 anos; M.A.Lúcio 4727 = 85 anos. O meu número é o 8079, espero que a malmvada demore ainda muitos anos até me fazer a indesejada visita.

Que descansem em paz é tudo o que me resta para dizer, nesta altura!

O Langonha!

 


Passando em revista a rapaziada da CF2, lembrei-me que nunca mais tive notícias do Rodrigues (16540) que mora para os lados de Sintra. Na primeira e única vez que o apanhei ao telefone, para o convidar para o nosso convívio, foi categórico a dizer-me que não queria saber disso para nada e que era a sua filha que geria a sua vida. Ainda tentei que me dissesse o porquê dessa dependência, mas a sua reacção foi desligar a chamada. Claro que nunca mais pensei em ligar-lhe, gente assim não merece! 

Será que ainda é vivo? Ele tinha tão pouca energia naquele corpo que será um milagre se ainda andar por aí. Foi essa falta de energia que lhe valeu a alcunha de «Langonha» com que o Verde o brindou. Nada mais apropriado (diria eu)!

sábado, 10 de dezembro de 2022

A fila continua a andar!

 A realização da Festa de Natal da Associação de Fuzileiros serviu para eu tomar conhecimento da morte de um camarada que me era muito chegado. Costumávamos trocar um telefonema duas ou três vezes por ano e, como ele tinha as suas raízes em Baião, planeávamos encontrar-nos cada vez que ele viesse ao norte. Uma dessas visitas estava planeada para acontecer no fim do verão passado, mas não aconteceu e só agora descobri a razão, ele faleceu em 5 de Agosto passado. 


O Barbosa era de uma escola anterior à minha - Setembro de 1961 - mas por razões de saúde não pôde jurar bandeira com os seus camaradas de recrutamento e foi obrigado a repetir a recruta, o que o fez encontrar-se comigo na Escola de Fuzileiros, no mês de Março de 1962. E daí em diante andámos sempre juntos até ao dia em que eu regressei a Lisboa no fim da comissão da CF8, em Fevereiro de 1968.

Fomos juntos para Moçambique na CF2 e por lá passámos uns felizes 30 meses. Regressámos a Lisboa, a bordo do paquete Infante D. Henrique com paragens em vários portos pelo caminho. No último deles, Funchal da Madeira, fomos a terra juntos e nesse dia o Barbosa conheceu uma menina com quem viria a casar por procuração. Pouco interesse tem para a minha narrativa, mas esse casamento acabou mal e foi anulado com autorização do Papa por nunca ter sido consumado.

Em Vale de Zebro, fizemos juntos o Curso de 1º Grau no fim do qual nos voluntariámos para a CF8 que estava a ser preparada para seguir para Moçambique de onde tínhamos saído, há seis meses apenas. E fizemos mais 28 meses de comissão juntos, parte em Lourenço Marques e parte em Metangula, no Niassa, já com a guerra de libertação em pleno andamento. Fizemos algumas operações no mato, felizmente sem qualquer tipo de problema.

Passámos bons momentos na companhia de outros camaradas que também já faleceram - como o Valter, o Silveira ou o Paulino. Regressámos à capital de Moçambique por volta do Natal de 1967 e dois meses depois a Lisboa. O Barbosa e o Valter andavam embeiçados por duas moçambicanas e preferiram passar a vida civil e lá ficar com elas. Nenhum desses casamentos teve grande futuro e depois da independência ambos regressaram à Metrópole "solteiros".

Depois fomo-nos encontrando regularmente, nos convívios anuais, enquanto houve pernas para o fazer. E depois disso fomos usando o telefone para dar notícias um ao outro e falar dos amigos comuns ou lamentar a perda de algum deles, cada vez que um recebia a guia de marcha para a outra dimensão. O Valter era de Sines e para lá levou o Barbosa, quando regressaram de Moçambique. O Valter tinha falecido, há cerca de dois anos, e agora foi o Barbosa juntar-se a ele e ao Paulino para juntos ficarem à nossa espera, pois mais dia menos dia todos seguiremos o mesmo caminho.

quinta-feira, 12 de maio de 2022

Mais um que partiu!

 


Li, hoje, na Revista da Armada, a nota de falecimento deste meu camarada da Companhia de Fuzileiros Nº 2. Ano de incorporação 1956, 6 anos mais antigo que eu. Quando foi destacado para a minha Companhia, ele era Marinheiro Escriturário e, juntamente, com o Sargento Parreira eram os "donos" da Secretaria. Como o seu chefe também tinha já falecido, há um par de anos, encontram-se, agora, os dois ao serviço de S. Pedro. Espero que mantenham a papelada em ordem!

Correcção - em 12 de Maio de 2022


terça-feira, 20 de abril de 2021

As alcunhas!

 Era muito difícil escapar sem uma alcunha. Por uma ou outra razão havia sempre um camarada com maior poder inventivo para "baptizar" os outros. Nomes como «Cai na merda» ou «Pilha carteiras» eram os mais feios e os seus donos não gostavam muito de os ouvir, mas havia outros mais suaves e que agradavam a quem os ouvia. Por exemplo, «Conquistador» era a alcunha de um rapaz da Chamusca que tinha a mania de engatatão e gostava de ser reconhecido como tal.


Hoje, vou falar do «Marreco» que era um Cabo Fuzileiro reconvertido que veio de outra especialidade e foi incorporado na CF2 mal terminou o Curso de Reconversão que decorreu ao mesmo tempo da minha recruta. Eu a aprender a marcar passo e manejar a Mauser e ele a aprender as teorias da guerra subversiva e fazer umas «Pistas de Lodo» para ganhar resistência, antes de ir enfrentar os turras.

Ele era marreco mesmo, tinha as costas mais arqueadas que eu já vi num homem normal. Diria que ele deve ter frequentado o ginásio e trabalhado os músculos sem o cuidado devido e, por isso, ficou com uma peitaça enorme e as costas abauladas. Gostava muito de expor o físico e mostrar a foto da namorada que tinha tatuada no peito. Só que ela já tinha dado de frosques com outro gajo qualquer e ele ficava afinado quando alguém lhe lembrava esse pormenor desagradável da sua história.

Havia vários outros filhos da sua escola que também se reconverteram em fuzileiros (e pertenciam à CF2 como ele) que já tinham recebido as divisas de 2º Sargento, mas por qualquer razão (tenho ideia que tinha recebido um castigo qualquer), ele ficou em Cabo até ao fim da comissão. Regressámos à Metrópole, em 11 de Abril de 1965, e depois de desembarcarmos, em Alcãntara, nunca mais o vi. Em 2008, quando desatei à procura dos antigos camaradas, disseram-me que ele já tinha morrido.

Como não tinha maneira de confirmar essa informação, limitei-me a tomar nota na minha lista e nos nossos vários convívios era citado na lista dos falecidos e rezávamos-lhe pela alma. Uns anos mais tarde, ao folhear a Revista da Armada, deparo-me com a notícia do seu falecimento na página da Necrologia. E lembro-me de ter acontecido o mesmo com o 2º Comandante da Companhia que aparecia como falecido numa lista da Companhia que publiquei no blog e a sua filha me enviou um mail a dizer que o pai estava vivo e de boa saúde.

Ele era o oficial mais militarista da nossa Companhia e parece que foi de propósito que se juntou ao Marreco para fazer um par de "mortos-vivos" que me vieram ensombrar a vida de organizador dos almoços anuais de convívio. Estas são histórias que não esquecem!

quinta-feira, 15 de abril de 2021

A primeira Companhia de Fuzileiros, em Moçambique!

 Em Março de 1961, começou a Guerra Colonial, em Angola. Em Setembro do mesmo ano, abriu a Escola de Fuzileiros, em Vale de Zebro. A ideia era fabricar fuzileiros à pressa para enviar para África e ajudar na defesa das nossas colónias. Os primeiros cursos de fuzileiros foram preenchidos com gente de outras classes, uma vez que os primeiros fuzileiros a sair da Escola de Vale de Zebro só ficariam prontos mais tarde. E os graduados dos primeiros DFE's e Companhias, por vezes, nem fuzileiros eram.

Assim aconteceu na CF2 que seguiu para Moçambique, em Outubro de 1962, em que os grumetes eram todos (ou quase) fuzileiros e o resto eram concorrentes ou seguiram mesmo na classe a que pertenciam. Os oficiais eram e de Marinha e mais 5 da Reserva Naval. Ao nível de Marinheiros, Cabos e Sargentos, havia de tudo, com uma maioria de artilheiros, com a responsabilidade das armas pesadas (metralhadoras, morteiro e bazuca), telegrafistas, sinaleiros, escriturários, manobras e carpinteiros.


Os artilheiros, por privarem mais de perto com os fuzileiros e os acompanharem nas missões a que eram obrigados, foram os escolhidos por mim para dar corpo a esta publicação.

O mais antigo de todos era o Bernardino (que podem ver na foto ao lado) que era ainda Marinheiro, mas tal como o Lúcio e o Emídio, já aguardavam a promoção a Cabo que acabou por chegar a meio da comissão.

Depois deles, havia dois 1º Grumetes que só aguardavam a promoção a Marinheiros e outros dois, mais modernos que ainda não tinham o 1º Grau e assim ficaram até ao fim da comissão que durou uns longos 30 meses.

Dos 3 mais antigos só o Lúcio é ainda vivo. O Bernardino morreu há muitos anos e o Emídio pouco antes de começar esta maldição da Covid-19. Todos os outros, tanto quanto me é dado saber, estão todos vivos. O Mourão em Coimbra, o Pereira na Cova da Piedade e o Clímaco em Peniche. Este último foi o único que provou as agruras da guerra, esteve comigo destacado no norte de Moçambique, zona do Niassa, e calcorreou muitos quilómetros de MG42 ao ombro, em perseguição dos turras da Frelimo. Felizmente, escapámos ilesos dessa aventura.


terça-feira, 6 de abril de 2021

Escapaste de boa, Mário!

 


De repente tocou o meu telemóvel. Atendi. Era o Mário. Há anos que não falava com ele e estava longe de esperar por essa chamada. Há coisas assim que nos caiem em cima, quando menos esperamos. Por sorte não eram más notícias.

O Mário é um filho da minha escola que esteve comigo na CF2 e fez apenas essa comissão, abandonando a Marinha, depois disso. Como a comissão foi feita em Moçambique e ele gostou, voltou para lá como civil. A vida não lhe correu tão bem como esperava e acabou por voltar e organizar a vida dele aqui, em Portugal.

Profissionalmente, foi bem sucedido, montou uma empresa ligada ao negócio da oftalmologia que foi de vento em popa e lhe garantiu uma vida razoável. Já no que toca à saúde, as coisas não correram tão bem, uma série de maleitas o perseguiram e os últimos anos têm sido um pesadelo. Ainda por cima, a vida familiar foi outro pesadelo, com divórcio e tudo pelo meio. Felizmente, ele tem um filho - que dá pelo mesmo nome - que o tem acompanhado sempre e para todo o lado

Há quase 10 anos que deixei de fazer o convívio anual da nossa Companhia que era a ocasião em que nos juntávamos uma vez por ano. O último foi na terra dele e sei que esteve presente, depois disso só nos temos falado pelo telefone. Hoje ligou-me para contar que, há cerca de um ano, contraiu uma pneumonia que depois degenerou numa embolia pulmonar, tudo coisas de grande gravidade, e que no fim do ano passado acabou na Covid-19. Coisa suficiente para mandar qualquer um para o outro mundo, mas ele conseguiu resistir e, sentindo-se muito melhor, telefonou-me para me informar que não chegou ainda a hora de o abater ao activo da nossa Companhia de Fuzileiros.

E logo no dia em que foi publicado que os COMBATENTES vão ficar isentos de taxas moderadoras em consultas e exames auxiliares de diagnóstico. Ainda vou aproveitar-me de alguns, disse ele!

segunda-feira, 15 de março de 2021

Eureka!

Eureka, descobri! Meio por acaso, descobri que o Arquivo Histórico da Marinha também foi digitalizado e arquivado na Torre do Tombo. Andei a dar uma volta pelos ficheiros (que estão numa desorganização total) e encontrei estas fichas com a fotos que vêem abaixo.








Trouxe apenas estas, porque me faltavam no álbum de fotos da Companhia e embora não tenham grande qualidade é melhor que nada.

Parece que também estão lá as listas de todos os recrutamentos e gostava de encontrar o meu, mas ainda o não consegui. Tenho que lá voltar e procurar mais um pouco.


sexta-feira, 12 de março de 2021

Os mais velhotes!

 


Começo por dizer que não tenho notícias do 2º Comandante, Ilharco de Moura, que na última informação que me chegou através de uma sua filha (não sei se única), estava bem de saúde e morava em Algés. Também não sei a idade dele, mas considerando que era 2º Tenente, quando partimos para Moçambique, em 1962, deveria ter, no mínimo, 28 anos, ou seja mias 10 anos que eu. Como eu já fiz 77 ele deve andar pelos 87. Os outros, com números de matrícula na Armada abaixo de 10 milhões (como dizíamos na brincadeira) são o Mar. Manobra J. Gomes, o Sargento Veloso e o Cabo Sinais J. Milheiro.

Dos 3 acima mencionados, o Gomes está no Lar da Santa Casa do Barreiro, o Veloso foi, muito recentemente, internado no Lar das Forças Armadas, em Runa, e o Milheiro morava na Praia de Mira, segundo as últimas notícias que me chegaram, já faz uns anitos.

Como todos eles seguiram a carreira militar - o Gomes é Sargento Ajudante e os outros dois chegaram a 1º Tenente - serei alertado pela «Revista da Armada» se algum destacar sem meu conhecimento, coisa que espero demore ainda muitos anos e que eu esteja cá para relatar o ocorrido. Mesmo assim, folheio com todo o cuidado a Revista, cada vez que é publicada, com receio de ver lá aparecer um desses nomes. É que a idade não perdoa, é um facto indiscutível.

Do grupo seguinte, numeração entre os 11 e 13 milhões, constam 7 nomes, como podem ver na lista acima, de quem, há algum tempo, não tenho tido notícias. Mas, se eles nunca se deram ao trabalho de contactar comigo, fui sempre eu que andei atrás deles, por aqui me fico, à espera que algum conhecido ou amigo deles me faça chegar a triste notícia do seu "destacamento".
E, por hoje, é tudo. Longa vida aos resistentes que nem o Corona Vírus conseguirá abater !!!


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Moçambique, os Fuzileiros e eu!

 


Este ano de 2021 ainda aqui não escrevi nada, de modo que é altura de o fazer para dar um sinal de que ainda não foi abandonado. Como se dizia no tempo da Guerra do Ultramar, um fuzileiro nunca deixa para trás um camarada ferido ou morto pelo inimigo. Por conseguinte, eu também não quero abandonar este blog, enquanto me restarem forças para o carregar comigo.

A lista que vêem acima menciona todas as Companhias de Fuzileiros que operaram em Moçambique. Encontrei-a num livro escrito em inglês e recortei-a, porque me interessam as datas de início e fim de comissão de cada uma delas. Eu fiz parte da CF2 e CF8 e confirmo que as datas estão correctas, muito embora a CF2 tenha ido de avião e a data mencionada se refira ao último pelotão apenas, pois o primeiro pelotão foi enviado um mês mais cedo (aproximadamente).

Na primeira comissão, fui destacado para o Niassa, de Setembro de 64 a Janeiro de 65 - quatro meses bem contados . em que tive o meu baptismo de fogo. Na segunda comissão passei metade do tempo no sul (Radionaval da Machava) e outra metade no Niassa, participando em várias operações como guarda-costas dos Destacamentos envolvidos em operações no mato. No conjunto das duas Companhias tivemos apenas um ferido ligeiro que apanhou com um estilhaço de uma mina

Foram quase cinco anos de Moçambique, na maior parte do tempo nada teve a ver com guerra, o que para um jovem entre os 18 e 24 anos é uma espécie de férias num país tropical para lembrar até morrer.

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

É triste dizer adeus!

 


Mais um dos nossos camaradas da CF2 que fez as malas e abalou para a outra dimensão. Usei o verbo "abalar" de propósito, pois o Silveira era alentejano e na forma de linguajar das gentes do Alentejo é assim que se diz partir. E partiu ao fim de muitos anos de sofrimento, pois já lá vão 28 anos desde que sofreu o AVC que lhe fez a vida num inferno. Sofreu e fez sofrer a sua família e, de certo modo, é um alívio poder dar-vos esta notícia, finalmente ele pode descansar em paz.

Eu sei que ele ainda passou por Angola, no período da Guerra do Ultramar, e acho que também no período pós.independência, mas não conheço o seu percurso, desde que regressámos de Moçambique, em 1968. Fizemos duas comissões juntos, na Companhia 2 (primeira comissão 62/65) e na Companhia 8 (primeira comissão 65/68). Fomos bons amigos e partilhamos muitas aventuras, principalmente nos 4 meses que passámos no Niassa, quando rebentou o "Terrorismo", em Moçambique.

O Silveira, o Barbosa e o Valter formavam um grupo inseparável dos meus maiores e melhores amigos. O Silveira foi, agora, juntar-se ao Valter que tinha partido, há cerca de 2 anos, ficamos para trás o Barbosa e eu, veremos até quando. E quando eu abalar não haverá quem faça o relatório dos acontecimentos relacionados com a CF2, a primeira Companhia de Fuzileiros a chegar a Moçambique, em Outubro, Novembro e Dezembro de 62 (já que foi enviada por avião, um pelotão de cada vez e conforme as disponibilidades da Força Aérea Portuguesa.

Descansa em paz, Silveira !